sábado, 8 de agosto de 2009

Os Senhores Fulanos de Tal Solidários

Com o objectivo de comercializar o meu livro Jóias da Natureza aqui no Concelho da Mealhada e uma vez que não tenho condições para o fazer, contactei um empresário gerente de uma livraria e pus-lhe não só o problema de dificuldades económicas por que estou a passar, sendo o livro um meio de angariar algum, ainda que pequeno, rendimento, como também o interesse de bastantes pessoas que me conhecem e interessadas em adquiri-lo.
Depois de o senhor Fulano de Tal me ter mostrado o seu interesse em fazê-lo, achou até que eu seria indicado para colaborar com a associação a que ele pertence na Bairrada e que até planta árvores e dá cadeiras de rodas e organizam campeonatos de golfe e outras iniciativas afins, tudo desses eventos, "que nem dão nas vistas porque é "gente humilde" que só quer ser solidária - este pensamento é meu - e que eu neguei por achar não ter condições para isso, o referido Senhor Fulano de Tal Empresário Gerente da tal livraria achou que faria a encomenda sim de 15 livros para comercializar no seu estabelecimento, mas eu teria que arranjar uma lista e "andar de porta em porta" onde escreveria o nome de pessoas interessadas em adquirir o livro e receberia até algum dinheiro do livro já por conta dessas pessoas (para as segurar) e então informava-as de que o mesmo TERIA que ser comprado na tal livraria, onde eu iria entregar o tal dinheiro já recebido por conta e as pessoas depois iriam levantar o livro e pagar o restante. Além de mais, e isto em relação à minha situação familiar e económica, não deveria fazer o papel de "coitadinho" como ele disse, porque tenho dois braços e duas pernas e posso muito bem trabalhar. E que até fiz mal em ter dispensado a algumas 2 ou 3 pessoas alguns dos livros que mandei vir da editora para mim, pelo preço de custo, porque assim quem estivesse interessado em adquirir o livro no seu estabelecimento comercial já iria achar caro, porque teria que pôr uma percentagem para ele tirar o seu lucro e mais "uns pózinhos" para a tal associação a que pertence. E depois de "ter mostrado interesse" perdeu o tal interesse... Porque também, segundo o Tal Senhor, eu iria receber a tal percentagem que a editora paga pela comercialização dos livros, e ele é que investia o capital sem ter garantia de os vender! É bom informar que cada livro que a editora vender dá 5 € mas só passados 60 dias e desde que essas percentagens sejam superiores a 17,50€. Neste caso eu daqui por 60 dias (teoricamente, pois nunca recebi nada até agora da editora nos Estados Unidos) receberia 75 Euros. Isto é, este valor seria a salvação da minha vida..., pelos vistos, graças ao grande apoio que o tal senhor me daria ao adquirir os 15 livros.
É lógico que com estas palavras e condições exigidas pelo Senhor Fulano de Tal Solidário desde que dê nas vistas, virei as costas e fui-me embora. No entanto lembrei ao referido "herói" da solidariedade que também eu já lá estive no cimo e que hoje se estou cá em baixo pelas partidas da vida e talvez por na vida ter encontrado tantos senhores solidários que nos "ajudam" quando nos podem sacar alguma coisa, é que talvez, dizia eu, cá vim espalhar-me em baixo e agora "os amigos" até fugiram e muitos já nem conhecem...
Informei também que apesar de "ter dois braços e duas pernas" e de já ter calcorreado metade deste País e concorrido a diversos empregos, quando chega a hora de admitirem alguém os meus 58 anos contam comparativamente a outros concorrentes muito mais jovens...E fazer um livro destes ainda que pequeno e recheado de fotografias que fiz durante tanto tempo também é trabalho!
Enfim o que me aconteceu até pode acontecer a qualquer um, e todos os dias vemos situações semelhantes e de muitos que até estariam mais acima no "estatuto social" e vieram por ali abaixo e caíram na miséria. É interessante o comportamento destas pessoas perante os que pedem ajuda (não pedem esmola) e no meu caso nem é ajuda no aspecto financeiro, mas mais como colaboração na comercialização do resultado de um trabalho (por vezes duro e paciente) e que se fazem "caros e exigentes nas condições" e depois quando a pessoa "necessitada" perde a noção da realidade e até faz um disparate (como muitos fazem suicidando-se pela vergonha por que têm de passar), são essas mesmas pessoas que ao comentarem tal desfecho "proclamam" que não havia necessidade de terem feito isso, porque há sempre soluções e "até estariam dispostos a ajudar..." Cínicos é o que são e gananciosos.
"É mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha que um rico entrar no reino dos céus".
Eu não fui pedir esmola ao referido senhor, fui-lhe propôr comercializar e tirar o seu lucro de um produto que foi o resultado do meu trabalho de mais de um ano e por saber do interesse em que algumas pessoas têm em adquirir esse produto - o meu livro Jóias da Natureza.
Conclusão a que cheguei (é o habitual): Este e outros senhores fulanos de tal solidários até são solidários desde que as suas realizações sejam "notícia" pois assim aumentam o seu "estatuto" na comunidade em que estão inseridos.

Publicado no Jornal da Mealhada de 21 de Outubro de 2009

2 comentários:

Carlos Rio disse...

Não são atitudes destas, caro João, que te farão desistir do que quer que seja. Pelo contrário, com toda a certeza.
Eu sei bem do que falas quando te referes a esse tipo de "amigos", vou estar cheio deles na segunda-feira à noite a darem os parabéns e a dizerem que sempre acreditaram no meu projecto. Mas bem vão ter que pagar 20€ para levar o livro para casa.
Eu também já não acreditava e sem saber como lá pareceu quem desse valor ao trabalho e o valorizasse com o seu apoio, como foi a Quercus.
E porque conheço o teu livro, eu sei que contigo vai ter que acontecer o mesmo.
Grande abraço.

António Gallobar - Ensaios Poéticos disse...

Penitencio-me porque ainda não tenho o teu livro comigo tenho andado ausente por motivos profissionais, mas hei-de ter pelo menos tenho essa vontade. Quanto a esse tipo de gente que apenas olha para o seu pequeno lucrozinho, não valem nada é assim o mundo em que vivemos amigo João. Um grande abraço e continua a lutar.

Bom Domingo