quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

O estado da nação

Veio ter comigo ontem um casal aqui da terra que por acaso até nem tenho assim tanta convivência que me diz:
"Escreva lá no seu Jornal (estavam a referir-se ao facto de eu de vez em quando escrever umas coisas no Jornal da Mealhada) que esta vida é injusta para quem quer trabalhar e luta pela vida, e que muitas das vezes o governo é que é o culpado das injustiças". Perguntei-lhes porquê a razão da sua revolta e então passaram-me a explicar: "Sou aposentado (a minha pensão é muito pequena) e minha esposa trabalha por conta duma empresa para além de termos um pequeno comérciozito em nome dela onde sou eu que estou, que devido à situação de crise que vivemos e à proximidade de grandes superfícies, muitas das vezes tanto a minha pensão como o vencimento da minha mulher são para pagar as facturas da loja ou para ir comprar alguns artigos, pois os nossos clientes são na maior parte pessoas de idade que já não se podem deslocar às grandes superfícies e que contam com a nossa loja, pelo menos enquanto tiverem alguma força, pois mais dia menos dia com o peso dos anos acabam por ir para o lar e acabam os clientes".
"A minha mulher trabalha desde madrugada à noite para ver se conseguimos sobreviver , honrar nossos compromissos e criar os nossos filhos que são pequenos. No entanto há praí certas pessoas que não fazem nada, que têm bom corpo e estão a receber o rendimento mínimo, porque o seu "mal" é serem malandros, ladrões e bêbedos e ainda para além disso caloteiros, pois não só me devem lá na minha loja e por mais que lhes peça o dinheiro ainda se riem na minha cara, como devem ao talho, na padaria e à peixeira daqui da terra. No entanto vão às grandes superfícies com o dinheiro que a segurança social lhes dá todos os meses, dinheiro esse dos impostos que todos nós pagamos, e compram tudo do bom e do melhor e ainda se dão ao luxo de andar a passear de carro dum lado para o outro e passam por nós e ainda fazem cara de gozo."
Perguntei-lhes a quem se referiam em concreto e então referiram-me um caso, que sem dúvida é sintomático do que acabaram de afirmar: o indíviduo a quem se referiam tem 40 anos, um corpo forte de quase 2 metros de altura, mas que passa o tempo sem fazer nada e muitas das vezes bêbedo, como já o encontrei por diversas vezes, e que segundo ele, pois como já me afirmou a mim, tem que estar em casa que é para a "segurança social não o ver" pela rua se não tiram-lhe o subsídio. E inclusivamente já foi contratado por diversas vezes para trabalhar, mas abandona sempre o serviço, porque se habituou de tal maneira à malandrice, que não faz nem quer fazer nada porque tem a garantia de que no meio do mês recebe o seu subsídio. Já para não falar no facto de o referido individuo ter estado preso por assalto a um taxista com violência física e internado diversas vezes num hospital de recuperação de alcoólicos. Esse é o seu mal que lhe vale ter direito ao rendimento mínimo, e como agora se casou com uma mulher que é tão fraca como ele, ainda recebem mais por serem casados e ela ter uma filha menor. E ainda mais, segundo consta aqui na terra, os referidos indivíduos mudaram para uma povoação vizinha, porque a "segurança social" lhes arranjou uma casa. Isto é que é viver...
E assim vão andando por aí - ela tem um desses carritos a que chamam pápa-reformas - a passear e sempre que encontram um incauto ferram-lhe o "cão" e desaparecem, e se são encontrados e lhes pedem o dinheiro que ficaram a dever, ainda ameaçam fisicamente, fazendo-se valer do "cabedal" que tem ou agridem as pessoas como foi o caso deste indivíduo que me veio pedir para escrever isto que acrescentou: "e olhe, escreva lá também, que mandei uma carta a esses indivíduos para me virem pagar e até ameacei que os punha em Tribunal e ele veio lá à loja mas foi para dizer que não pagava porque eu não tinha nenhum documento assinado por ele e ainda me deu um empurrão que eu bati numa parede". "E eu até tenho como testemunha um senhor que é vendedor que estava lá na altura. Chamei a GNR que veio mas como o individuo me começou a pedir desculpa e a dizer que vinha pagar, eu com a esperança de receber o meu dinheirito, acabei por dizer à Guarda que o tinha desculpado e que não apresentava queixa. E olhe continuo à espera..."
Bom, para o Jornal não vou escrever porque já não dou a minha colaboração à referida publicação, mas deixo-vos aqui este texto, para quem eventualmente "passe por aqui" leia e veja porque razão o Paulo Portas por vezes tem razão...
É este o estado na nação!

1 comentário:

Chapa disse...

Muito boa foto. É o verdadeiro estado da nação.